antiga utopia do progresso sem fim e nos desafia a seguir outra utopia como uma ideia-força – não um sonho irrealizável. Ideia que, ao mobilizar as vontades para realizar-se na história, desperta novas energias e alimenta a esperança de paz na Terra. Tal como o livro do Apocalipse que parte dos “sinais dos tempos” para assegurar a vitória da vida e prometer “um novo céu e uma nova terra”, as comunidades eclesiais são desafiadas hoje a proclamar que “outro mundo é possível”. Para isso é preciso pensar a globalização no sentido inverso habitual: a periferia empobrecida que leva sua visão de mundo ao centro rico. Trata-se então de outro paradigma de pensamento.
A mudança de paradigma começa ao se ver a Terra não como uma reserva de recursos naturais a serem explorados para produzir riqueza, e sim como mãe de todas as espécies de vida. Nesse paradigma a economia é regida pelo princípio do respeito à Terra, mãe generosa que mesmo não sendo rica, nada nega a seus filhos e filhas – gente mimada e insensata – que a explora, tudo exigindo e nada retribuindo. Mesmo adoecida e desgastada como está hoje, a Terra continua a nos oferecer aquilo que durante milênios produziu e conservou em seu seio.
As alternativas de outro mundo possível estão ainda em gestação ou experiência, como ensaios de um novo paradigma de pensamento e de modo de vida. Estas, sim, interpelam a Vida Religiosa, convidando-a para entrar em parceria no processo histórico de sua construção. . Se a Vida Religiosa quer contribuir para que as alternativas de outro mundo possível se aproximem da utopia do Reinado de Deus, tem que participar do processo junto com todas as outras forças sociais, simpáticas ou não ao cristianismo. Dois pontos importantes: construção de um novo paradigma de valores e atualidade do voto de pobreza.
Enquanto não for desconstruída a associação entre riqueza e felicidade, será muito difícil construir alternativas ao sistema produtivista-consumista capazes de conquistar adesão massiva. Nessa desconstrução teórica e prática, a Vida Religiosa pode desempenhar função importantíssima. A questão é: qual é sua credibilidade?
Nisso reside seu grande desafio: como proclamar e testemunhar, de modo plausível, que é possível ser feliz sem ser rico? Este é o desafio para o agir – que escapa à minha competência”.
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